Duas semanas se passaram, Vincenzo não me procurou mais. Ele me mandou uma única mensagem dizendo que daria o espaço que eu precisasse e que estava esperando que eu o procurasse. Eu me mantive firme e me concentrei na faculdade e no trabalho. O fato de estar trabalhando para ele mesmo que não diretamente não me deixava por nada confortável. Ao menos eu ainda não tinha visto ele no prédio. Eu sabia que ele tinha voltado para nossa cidade natal e alguns dias depois começou a trabalhar no nosso prédio. Na cobertura. Eu me sentia uma daquelas personagens de livros de romance erótico onde a funcionária se apaixona pelo chefe e o mesmo a fode. Bom tecnicamente eu me apaixonei antes dele se tornar meu chefe, e a parte de ser fodida por ele, ultimamente a foda estava sendo moral. Eu ainda me sentia traída por ele.
Mas as minhas colegas de trabalho não paravam de falar do novo CEO da empresa, que ele era lindo e muito sexy. Não me admira que elas não lembrassem dele da boate, afinal estavam bêbadas.
Algumas delas foram levar algum documento para a assistente dele ou participaram de alguma reunião com ele e os chefes delas. Ao menos nisto, ele estava me poupando, até o momento meu departamento ainda não tinha ido fazer reunião com ele.
A angústia no meu peito não passava, por mais ódio por toda a situação, eu ainda o amava perdidamente. E ficar sem ele me doía de uma forma dilaceradora. Eu já não conseguia me concentrar tão bem no que eu devia fazer, seja no trabalho, nos estudos.
Neste momento eu estava ali, sentindo pena de mim mesma enquanto tentava organizar minhas planilhas no meu computador. E a minha cabeça divagando. Meus pensamentos nada eloquentes me levando a desejar ir até aquele escritório na cobertura e olhar aqueles olhos demoníacos, beijar aquela boca deliciosa até ele me dobrar sobre sua mesa e me foder até eu perder os sentidos.
Eu pulo na mesa com o meu telefone tocando.
– Departamento finanças Sabrina.
Um respiro pesante do outro lado da linha me fez entender quem era. Eu fico muda. Até ele falar:
– Desculpe, eu não queria , eu liguei porque preciso falar com o Sandro e o ramal dele está mudo. Enfim…
Eu o interrompo:
– Sim Senhor Vincenzo, vou chamar o Sandro. Peço que aguarde um minuto.
Coloco o telefone na mesa. Tento esconder toda a bagunça que a voz dele me causou e vou até Sandro informando da ligação que o espera. Eu caminho para o banheiro, não preciso correr o risco que ele peça para falar comigo.
Passo alguns minutos no banheiro tentando me recompor. Estes últimos dias foram um inferno, sabendo que ele está a poucos metros e mesmo assim existe um abismo entre nós.
Ele com certeza estava com raiva, não tentou se aproximar, obviamente meu comportamento não foi dos melhores, mas saber que ele comprou onde trabalho já depois que ele tinha concluído a transação não me deixou muita escolha de reação.
Respiro fundo, molho minha nunca é reuno minha dignidade até o caminho para a minha mesa.
Sandro se aproxima de mim parecendo nervoso.
-Sabrina, temos uma reunião com o novo CEO para prestação de contas e novas estratégias de trabalho.
Eu sinto minhas pernas trêmulas. Já em angustia pelo que estava por vir.
– Claro Sandro. Vou preparar tudo para você o mais rápido possível…
Ele me interrompe com uma voz frustrada:
– Sabrina ele exigiu que a reunião seja feita hoje depois do almoço. Devemos comparecer com tudo em mãos. Ou seja, nosso horário de almoço vai saltar. Ao menos o meu, o seu e o da Julia.
Me sinto enjoada. Tenho que ficar cara a cara com ele ainda hoje, junto com Sandro meu chefe e Julia. Logo a Julia? Eu nunca a suportei. Aliás acredito que não sou a única no escritório que não a suporta, ela vivia dando em cima do antigo CEO e ela se sentia superior a todos, por este suposto caso. Não poderia ser pior.
Sou tirada de meus devaneios por um Sandro impaciente.
– Sabrina!! Eu preciso que você se concentre, me ajude a montar uma apresentação, temos que causar uma boa impressão no Senhor Vincenzo. Eu já me reuni com o CCo irmão dele e foi mais tranquilo. Mas já fiquei sabendo que ele é bem impiedoso, exigente, um diabo…
Eu bufo e abafo uma risada angustiante. Enquanto dos meus lábios escapa:
– Diabo não tem coração.
Sandro me encara incrédulo e diz:
– O que você disse??
Assustada tento voltar ao meu profissionalismo.
– Nada. Desculpe-me Sandro. Eu vou preparar tudo e darei o meu melhor para a apresentação de nossos dados e estratégias.
Sandro faz uma expressão de alívio e sai da minha sala dizendo:
– Confio em você, estarei com Julia preparando nossa parte. Assim que você tiver tudo em mãos falaremos sobre a apresentação.
Eu concordo com um movimento de cabeça. Tento afastar o nervosismo de encarar Vincenzo no meu ambiente de trabalho. Nas próximas horas eu puxo dados, anexo tudo, imprimo dossiês e salvo tudo em uma memória portátil para a apresentação.
Vou a sala de Sandro e me deparo com a insuportável Julia sentada quase em cima do Sandro que está digitando em seu Laptop. Ela está com uma saia curta preta e uma camisa branca bem justa deixando saltar fora o seu decote siliconado. Ela abre um sorriso debochado e me diz:
– Então Sabrina, mova-se, eu preciso dar uma última olhada nos dossiês e na memória antes de irmos para a sala do chefe.
Eu irritada jogo tudo sobre a mesa.
– Está tudo ai. Suponho que seja você a fazer a apresentação.
Sandro ergue seu olhar de maneira assustada e sem graça me responde:
– Me desculpe Sabrina. Mas Julia tem mais tempo de empresa e …
Eu bufo e interrompo-o:
– Tanto faz Sandro. Eu nem tenho vontade de ir nesta reunião então…
– Sabrina! Preciso de você lá. Julia fará a apresentação, mas você vai complementar as idéias e sugestões. Temos que causar uma boa impressão.
Julia me encara retocando seu batom vermelho carmim.
– Não me decepcione Sab.
– Eu me chamo Sabrina, ok?
Ela sorri, mas não diz nada, analisando todo o trabalho que eu fiz. Me sinto ridícula, frustrada e triste por tudo entre eu e Vincenzo. De qualquer forma a tristeza estava mais forte de todo o ódio que antes eu sentia.
A caminho do escritório de Vincenzo eu não podia acreditar quantas vezes nós juramos terminar de maneira serena nossa história, e manter nossa amizade. Mas nós não estávamos apaixonados naquele momento.
Sou tirada dos meus devaneios quando a porta do elevador se abre. Caminhamos em direção da mesa da secretaria de Vincenzo que sorri de maneira simpática.
– Boa tarde, o Senhor Vincenzo espera por vocês na sala adjacente a sua, eu os acompanho.
Ela caminha até a porta, anunciando nossa presença. Eu fecho os olhos, faço um respiro profundo e acompanho Sandro e Julia para dentro da sala. Tento não manter contato visual com ele, mas meu desejo me trai. Ele está malditamente bonito como sempre em um dos seus ternos escuros, mandíbula forte e intimidadora, lábios definidos e aquele olhar intenso.
Céus Vincenzo! Pensei comigo mesma. Por uma fração de segundos vi preocupação em seus olhos. Abaixo meu olhar nas pastas em minha mão.
– Boa tarde a todos! Se acomodem por favor. E prendam o tempo necessário para me apresentarem os dados e projetos desenvolvidos na gestão anterior.
Forço um sorriso profissional, enquanto Sandro se aproxima dele e aperta sua mão.
– É um prazer tê-lo conosco Senhor Vincenzo, tenho ouvido falar o quanto o Grupo Venice tem crescido.
Francesco apenas aperta a mão dele de volta e sorri. Ele parece imenso perto da figura miúda de Sandro.
Julia se aproxima sinuosamente para ele, estende a mão e descaradamente praticamente se joga nos braços dele para um abraço. Ele não retribuiu, mas a segura e não a repreende.
– É um imenso prazer ter você conosco Vincenzo. Nem acredito que te encontrei novamente. Que saudades.
Ele da um sorriso frio e se desvencilha dela.
– Olá Senhorita Julia. Espero que possamos alcançar os objetivos esperados.
Ela sorri e não perde a empáfia.
– Um adoro este seu tom formal e profissional. Bom, fora da empresa posso te oferecer uma bebida de boas-vindas, espero que em breve. Aqui serei muito profissional não se preocupe.
Sandro não parece desconcertado e nem mesmo parece tentar controlar sua preferida.
Vincenzo busca meu olhar e eu começo a folhear as pastas. Ele se aproxima e estende a mão para mim. Ergo meu olhar e seus olhos são frios, mas seu sorriso é inseguro.
Eu estendo minha mão e quando sinto sua pele na minha é como se eu estivesse sendo abraçada por ele.
– É um prazer trabalhar com você Sabrina. Estudei seus dossiês nos últimos dias e suas idéias que o Sandro me passou, estou impressionado!
Eu busco forças na minha sanidade e respondo
– Obrigada Senhor Vincenzo. O prazer é meu em trabalhar para o grupo Venice, não estava nos meus planos, mas aqui estamos. Darei o meu melhor.
Ele solta minha mão e se gira para sua cadeira na ponta da mesa. Eu me acomodo a sua direita deixando uma cadeira livre entre mim e ele. Mantendo claramente distância. Eu precisava me manter longe dele.
Sandro me olha sem entender minha resposta e eu ignoro-o.
Logo, Julia se levanta de maneira sensual e vai até o projetor e o acende colocando em seguida a memória com a apresentação.
Ela segue falando de números, de projetos, de estatísticas, sempre com um sorriso idiota na cara. Meu Deus ela está quase se jogando no colo dele e pedindo para ele a foder aqui na nossa frente. Ele não me olhou nem uma vez depois do aperto de mão, mas encara a Julia e sua exibição.
Depois da apresentação dos slides ele respira fundo e puxa seu bloco de anotações e começa a habilmente rebater os pontos que não o convenciam. Julia era boa em apresentar, mas argumentar não, ela está acostumada a usar outras táticas para convencer. Sandro a cada pergunta de Vincenzo me olhava desesperado, e eu encarava de maneira totalmente profissional explicando tudo e prendendo nota do que para ele devia ser mudado.
Depois de uma meia hora finalmente a reunião terminou com um Sandro totalmente sorridente apertando a mão de Vincenzo.
Julia em volta da mesa quase se esfregando em Vincenzo, meu desconforto sobe a um nível insuportável.
– Bom Senhor Vincenzo, agradeço a sua atenção ao nosso departamento, anotei suas observações e pedidos, mudarei o que foi solicitado, juntamente com Sandro o mais rápido possível e tudo estará em sua mesa no máximo na segunda. Até breve.
Me giro e tento sair da sala. Mas sinto ele agarrar meu braço.
– Na verdade, Senhorita Sabrina, eu ainda tenho algumas observações a fazer, então peço gentilmente que fique.
Que bastardo! Pensei comigo mesma. Como vou dizer não ao chefe?
Eu me viro lentamente, Sandro está sorridente e logo diz:
– Claro,Senhor Vincenzo, a Sabrina pode restar o tempo necessário. Eu e Julia vamos começar com o que já temos.
Eu estreito meu olhar para ele, mas logo volto para minha postura profissional.
– Claro, Senhor Vincenzo.
Julia passa por ele sorrindo e pisca, enquanto sai acompanhada de Sandro.
Assim que eles fecham a porta eu vou em fúria.
– Sério? Nós dois sabemos que você não tem mais nada a acrescentar neste projeto. O que vou falar para eles depois? O que você está fazendo?
Ele me solta e vai até a porta trancando-a em seguida.
Um frio me percorre o corpo e eu tremo vendo ele voltar até mim.
– Desculpe Sabrina, eu sei que não é o ambiente favorável para uma conversa, mas eu não aguento mais ficar longe, não aguento mais não poder ao menos tentar falar com você sobre nós.
Ele toca meu rosto e eu me afasto.
– Vincenzo você poderia ter me ligado, ido até minha casa, mas não me fechar na sua sala …
Ele se aproxima e vou me afastando até sentir sua mesa atras de mim.
– Você não atenderia e nós dois sabemos disto. Se eu fosse na sua casa você não abriria a porta. Você quando está chateada, magoada com alguma coisa você não dá o braço a torcer. Foi sempre assim desde nossa adolescência. Então não me culpe de tentar lutar por seu amor.
Eu respiro fundo, minha cabeça gira.
– Você parece me conhecer tão bem. Mas não lembrou disto quando foi comprar a empresa onde faço estágio? Não pensou que omitir estas informações poderia me prejudicar. Eu tinha uma proposta do concorrente, eu tinha uma chance e dispensei. Porque achava que teria uma chance aqui e aí vem você com a Venice, assume tudo e eu perdi a oportunidade na outra empresa. E sim, eu tentei, mas eles já ocuparam o cargo.
Ele chega mais perto e coloca as suas mãos ao meu lado apoiando em sua mesa, sua boca está perto demais.
– Sabrina, eu te amo. Sou um homem de negócios e este era extremamente lucrativo para mim. Eu precisava agir rápido e fechar a compra e um dos motivos era justamente poder ficar perto de você e manter seu emprego, visto que do jeito que estavam as coisas por aqui eles iriam em falência em breve. Você com certeza deve ter percebido que algo estava errado.
Eu tento me concentrar, tento respirar, mas o cheiro dele, sua voz, sua presença, me deixavam incapaz de raciocinar, ao menos não na situação daquele momento.
– Vincenzo, eu entendo o fato de você ter de agir rápido é sua empresa. Lógico que você não teria que perder um negócio por minha causa. Eu não sou egoísta a este ponto. Mas o que me doeu foi você não ter comentando comigo, por mais que tenha sido rápido foi coisa de dias de negociação então… você sabia que eu trabalhava aqui…
Ele encosta sua testa na minha e suspira.
– Eu vou fazer o que você quiser para que me perdoe. Eu errei, mas eu estava desesperado para resolver tudo o mais rápido possível. Eu não quero te perder, não agora sabendo que você me ama como eu te amo.
As lágrimas estão vindo, eu pisco rapidamente e tento sair, mas ele continua firme com suas mãos sobre a mesa.
– Vincenzo, vamos falar sobre isto amanhã, por favor. Agora não . Eu estou realmente me sentindo cansada.
Ele alisa meu braço e fala.
– Tudo bem. Eu não quero te forçar a nada, e entenda a minha atitude de agora foi de total desespero. Eu posso te levar para …
Quando eu vou falar algo o telefone dele toca insistentemente e ele pragueja.
– Eu preciso responder, deve ser urgente, visto que deixei claro para minha secretaria que não queria interrupções.
Ele me deixa ir, mostrando hesitação.
Eu faço um aceno para ele e me afasto enquanto ele fala no telefone.
Saio o mais rápido possível da sua sala. Sigo rapidamente para o elevador e quando chego no meu andar saio tão rápido do mesmo que fico tonta e quase caio. Sou amparada por braços fortes e quando ergo meu olhar vejo Victor do Recursos humanos.
– Sabrina você está bem? Você está pálida!
Eu realmente não me sentia bem, minha cabeça estava leve e eu sentia meu estômago dar sinais. Eu me levanto e sem responder sigo para o banheiro. Para minutos depois estar de joelhos na frente do vaso sanitário colocando para fora o meu café da manhã e os biscoitos do horário do almoço.
Alguém bate na porta e abre em seguida.
– Sabrina é a Aline. Amiga você parece péssima!
Eu faço sinal com a mão para ela ir, mas ela se aproxima e segura meus cabelos. Eu fico ali ainda por mais algum momento.
Quando não tem mais nada para sair, eu sigo para a frente do espelho e nem tento me encarar de imediato. Jogo água no meu rosto e enxaguo minha boca. Até Aline aparecer com a minha bolsa.
– Obrigada Aline.
Apressadamente eu abro e pego minha escova de dentes e creme dental.
Depois de me refrescar e me recompor eu finalmente encaro Aline que me analisa de cima para baixo.
– Sabrina, você está bem agora? O que houve?
– Aline, não é nada. Acredito que tenha sito o stress, a reunião…
Sabrina parece procurar palavras para me falar algo.
– Sabrina você devia ir ao médico. Nas últimas semanas você tem se sentido mal com frequência.
Parando para pensar, realmente tinha já algumas semanas que eu não estava bem. Mas eu atribua sempre ao stress da pós graduação, ao trabalho e obviamente a minha história com Vincenzo.
– Eu tenho uma consulta de rotina amanhã. Não se preocupe.
Ela solta um suspiro e fala.
– Sabrina você está com dores nos seios?
Eu fico fria, entendendo o que ela está insinuando. O último mês foi turbulento e eu não prestei atenção em mim.
Eu a encaro assustada.
– Não, não é isto…
– Sabrina eu disse a mesma coisa quando me sentia como você, e agora o meu “não é nada” tem dois anos e corre pela casa me chamando de mamãe.
Sinto um tremor em todo meu corpo e a náusea vem outra vez, corro para o banheiro.