Fazia um tempo que Lais tinha saído. Eu estava deitada na cama onde fiz amor com Lucca nos últimos dias. Me lembrando de todas as vezes em que ele esteve dentro de mim sobre aqueles lençóis, de seus olhos azuis fixos nos meus enquanto ele ainda pulsava dentro de mim. Foi tudo tão intenso e agora eu estava ali, tocando meu ventre e pensando que eu teria que ser muito forte, pela vida que estava se formando dentro de mim, fruto deste intenso amor.
Eu poderia me acomodar e ficar ali esperando por ele, parecia ser o certo. Eu estava protegida, tinha o bunker. Mas se ele falhasse em sua missão, o seu império estaria comprometido e eu e o bebê poderíamos ser alvos fáceis. Eu estava sim chateada com ele por ter partido sem me dar a chance de me despedir, mas o que mais me doía na verdade era a situação em si, e na ideia mórbida de sua morte. Eu respiro fundo, abraço seu travesseiro, inspiro seu perfume e novamente as lágrimas me invadem. Eu não posso ligar para ele, não posso fazer nenhuma mensagem. Eu o colocaria em risco, ele poderia ser pego. E ele evitaria todo e qualquer contato como da outra vez. Eu adormeço pelo cansaço do choro.
O som de um celular me desperta, meu coração acelera. Eu olho o visor rapidamente, mas para o meu iludido coração, era a doutora Bossi.
_ Leona, boa tarde, desculpe te incomodar. Mas gostaria de dizer que anteciparemos sua cirurgia para amanhã de manhã. Algum problema para você? O seu pai e o capitão Gabriele assistirão todo o procedimento. Depois que o objeto for removido, eles estarão presentes também enquanto os especialistas no assunto tentarão descobrir o que tem dentro do implante.
_Tudo bem, quanto mais rápido melhor. Obrigada doutora.
_ Até amanhã, Leona.
Eu desliguei o telefone e continuei olhando para o teto. Este seria o início da minha fuga.
Já era quase noite quando Lais voltou. Eu já estava esquentando a comida que estava pronta na geladeira. Tudo organizado, com a descrição do cardápio, provavelmente preparado por algum cozinheiro dele. Lais puxa uma pequena mala com ela, uma sacola de compras.
_ Estou exausta. Vim o mais rápido que pude, o tráfego a esta hora é horrível, você sabe. Então eu comprei suas coisas. Você está tão pálida amiga. Ele te ligou?
Ela não vai entender que ele não vai me ligar. Mas não posso mentir. Eu nego com a cabeça e mantenho um sorriso fraco em meus lábios.
_ Sério? Pois eu vou ligar para este bastardo agora e vou falar um monte para ele. Ele tinha que pelo menos tentar saber como você está …
_ Lais! Não! Está tudo bem. Lembra que não quero chamar atenção dele.
Eu pego os pratos e meu olhar se posa rapidamente no anel no meu dedo. Eu ainda não consegui ter coragem para retirá-lo, fico pensando, foi o último ato dele. Eu enxugo uma lágrima e me viro para Lais que me entrega as caixas de vitaminas. Ela me puxa para um abraço.
_ Eu odeio o fato dele ser um mafioso. Mas o que odeio mais é ele estar sendo um canalha com você. Ele não devia ter ido viajar em um momento tão crítico, onde você está em perigo e assustada. Ele falou com aquele cara, com um espanhol perfeito, eu queria não ter faltado minhas aulas de espanhol. O que ele disse? O cara parecia estar com medo dele. E depois o modo como ele apontou a arma, como ao improviso, ele se aproximou e quebrou o nariz daquele psicopata, foi assustador, ele parecia disposto a matar por você. Não que isto seja algo novo para ele… Meu Deus, desculpa Leona. Me perdoe eu estou tão nervosa e não seguro minha língua. E eu tenho tantas dúvidas sobre o Lucca. Mas deixa para lá, vamos nos concentrar em você.
Eu queria poder me abrir com ela, contar cada particular da minha história com o Lucca, dizer que nossa história começou na escola e tudo o que veio depois. Que ele já matou de certa forma também por mim. Mas eu engulo seco e só me afasto dela tentando recuperar o fôlego e contendo o choro.
_ Vamos comer? Ao menos te garanto que a comida é boa. _ tento parecer divertida. Ela sorri e se senta diante do prato que coloquei para ela na mesa.
Durante o jantar falamos de tudo um pouco. Ela me contou como está brigada com o Paolo, mas acabou confessando que o ama. Eu prestei atenção em toda a sua frenética fala. Eu estava distraída e muito mais calma. Naquela noite dormimos cedo, eu me recusei a dormir na cama de Lucca e dormi com Lais no quarto de hóspedes.
O dia seguinte passou mais rápido do que eu podia imaginar. A cirurgia foi executada com sucesso.
Meu pai e o Capitão Gabriele assistiram tudo e continuaram com a equipe médica e da polícia quando me levaram para o andar de cima. Horas depois eu estava deitada no sofá da sala descansando, eu tinha que encontrar uma maneira de falar com meu pai, contar da gravidez, informá-lo que quero me esconder.
Mas não poderia correr o risco de ter esta conversa ali. Eu já tinha falado mais do que deveria, comecei a ficar paranoica, e se ele estivesse me vigiando, me ouvindo? Obviamente ele não é o Russo que fazia isto. Mas o meu problema de confiança ia e voltava, me fazendo ter um verdadeiro caos na mente.
Eu estava deitada, meu braço um pouco inchado, eles acharam o chip sob a minha pele, mas ainda estavam tentando remover a criptografia para descobrir o conteúdo. Eu não sentia nenhuma dor, o corte não foi tão grande. Foi profundo, mas eu estava bem, medicada.
Lais estava tentando me distrair, falando horas a fio de diversos assuntos em poucos segundos. Ela tinha aproveitado o tempo que fiquei sedada para ir ao apartamento dela buscar mais algumas coisas. Ela desfazia sua mala enquanto falava sem parar.
_ Eu estava com a caixa do correio cheia. Estou esperando aquela restituição dos fones que comprei e nunca chegam. Já liguei tantas vezes e eles me enrolam. Odeio correr ou dirigir sem meus fones. Eles devem me fornecer outros fones novos, enfim está na garantia. _ Ela gesticula e passa todos os envelopes, abrindo e falando desesperadamente. Sua ansiedade e seu jeito me divertiam.
_ Lais, respira. Calma…
Ela me mostra a língua e pega o último envelope.
_ Estranho, não conheço o remetente. E isto…
Ela levanta uma pequena carta de micro SD. Eu me lembro do e-mail e logo penso que isto pode estar relacionado. Ela segura o pequeno objeto na mão.
_ É um micro SD para celular…
_ Eu acho que devíamos avisar a polícia antes, Lais.
_ Eu já contaminei qualquer prova, toquei com minhas mãos, então…